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sábado, 2 de janeiro de 2021

REINAUGURAÇÃO DA PRAÇA CENTRAL DO DISTRITO DE MONTE DOURADO

Na última terça-feira, dia 29/12/2020, foi reinaugurada a Praça Central de Monte Dourado, uma belíssima obra da gestão da prefeita de Almeirim Adriane Bentes (2017/2020). Apesar da necessidade de evitar aglomeração a população compareceu em grande número e parece ter gostado do empreendimento. Agora ampliada até a igreja local de Nossa Senhora de Nazaré. A nova versão ganhou um palco central, um parquinho para a criançada, quiosques em alvenaria além de plantas. Ficou muito bonita e agradável. Parabéns aos idealizadores e realizadores do projeto e a população que a partir de agora pode desfrutar de um aconchegante ponto de referência para passeios.
Abaixo você pode conferir como era antes e como ficou a Praça Central de Monte Dourado.

Fonte: Heraldo Amoras


Fonte: Heraldo Amoras

Fonte: Heraldo Amoras



Fonte: Andreza Ferraz



quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

VIDA E MORTE DE LAMPIÃO, O REI DO CANGAÇO

Publicada originalmente por Lira Neto na Revista Aventuras na História em 28/07/2019.

Eles faziam do assassinato um ritual macabro. O longo punhal, de até 80 centímetros de comprimento, era enfiado com um golpe certeiro na base da clavícula – a popular “saboneteira” – da vítima. A lâmina pontiaguda cortava a carne, seccionava artérias, perfurava o pulmão, trespassava o coração e, ao ser retirada, produzia um esguicho espetaculoso de sangue. Era um policial ou um delator a menos na caatinga – e um morto a mais na contabilidade do cangaço.

Quando não matavam, faziam questão de ferir, de mutilar, de deixar cicatrizes visíveis, para que as marcas da violência servissem de exemplo. Desenhavam a faca feridas profundas em forma de cruz na testa de homens, desfiguravam o rosto de mulheres com ferro quente de marcar o gado.




Exatos 80 anos após a morte do principal líder do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, a aura de heroísmo que durante algum tempo tentou-se atribuir aos cangaceiros cede terreno para uma interpretação menos idealizada do fenômeno. Uma série de livros, teses e dissertações acadêmicas lançados nos últimos anos defende que não faz sentido cultuar o mito de um Lampião idealista, um revolucionário primitivo, insurgente contra a opressão do latifúndio e a injustiça do sertão nordestino.

Virgulino não seria um justiceiro romântico, um Robin Hood da caatinga, mas um criminoso cruel e sanguinário, aliado de coronéis e grandes proprietários de terra. Historiadores, antropólogos e cientistas sociais contemporâneos chegam à conclusão nada confortável para a memória do cangaço: no Brasil rural da primeira metade do século 20, a ação de bandos como o de Lampião desempenhou um papel equivalente ao dos traficantes de drogas que hoje sequestram, matam e corrompem nas grandes metrópoles do país. Guardadas as devidas proporções, o cangaço foi algo como o PCC dos anos 1930.

Cangaceiros e traficantes

Foram os cangaceiros que introduziram o sequestro em larga escala no Brasil. Faziam reféns em troca de dinheiro para financiar novos crimes. Caso não recebessem o resgate, torturavam e matavam as vítimas, a tiro ou punhaladas. A extorsão era outra fonte de renda. Mandavam cartas, nas quais exigiam quantias astronômicas para não invadir cidades, atear fogo em casas e derramar sangue inocente.

Ofereciam salvo-condutos, com os quais garantiam proteção a quem lhes desse abrigo e cobertura, os chamados coiteiros. Sempre foram implacáveis com quem atravessava seu caminho: estupravam, castravam, aterrorizavam. Corrompiam oficiais militares e autoridades civis, de quem recebiam armas e munição. Um arsenal bélico sempre mais moderno e com maior poder de fogo que aquele utilizado pelas tropas que os combatiam.

“A violência é mais perversa e explícita onde está o maior contingente de população pobre e excluída. Antes o banditismo se dava no campo; hoje o crime organizado é mais evidente na periferia dos centros urbanos”, afirma a antropóloga Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e autora do livro A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão.

A professora aponta semelhanças entre os métodos dos cangaceiros e dos traficantes: “A maioria dos moradores das favelas de hoje não é composta por marginais. No sertão, os cangaceiros também eram minoria. Mas, nos dois casos, a população honesta e trabalhadora se vê submetida ao regime de terror imposto pelos bandidos, que ditam as regras e vivem à custa do medo coletivo”.

Além do medo, os cangaceiros exerciam fascínio entre os sertanejos. Entrar para o cangaço representava, para um jovem da caatinga, ascensão social. Significava o ingresso em uma comunidade de homens que se gabavam de sua audácia e coragem, indivíduos que trocavam a modorra da vida camponesa por um cotidiano repleto de aventuras e perigos.

Era uma via de acesso ao dinheiro rápido e sujo de sangue, conquistado a ferro e a fogo. “São evidentes as correlações de procedimentos entre cangaceiros de ontem e traficantes de hoje. A rigor, são velhos professores e modernos discípulos”, afirma o pesquisador do tema Melquíades Pinto Paiva, autor de Ecologia do Cangaço e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Homem e lenda

Virgulino Ferreira da Silva reinou na caatinga entre 1920 e 1938. A origem do cangaço, porém, perde-se no tempo. Muito antes dele, desde o século 18, já existiam bandos armados agindo no sertão, particularmente na área onde vingou o ciclo do gado no Nordeste, território onde campeava a violência, a lei dos coronéis, a miséria e a seca. A palavra cangaço, segundo a maioria dos autores, derivou de “canga”, peça de madeira colocada sobre o pescoço dos bois de carga. Assim como o gado, os bandoleiros carregavam os pertences nos ombros.

Um dos precursores do cangaço foi o lendário José Gomes, o endiabrado Cabeleira, que aterrorizou as terras pernambucanas por volta de 1775. Outro que marcou época foi o potiguar Jesuíno Alves de Melo Calado, o Jesuíno Brilhante (1844-1879), famoso por distribuir entre os pobres os alimentos que saqueava dos comboios do governo. Mas o primeiro a merecer o título de Rei do Cangaço, pela ousadia de suas ações, foi o pernambucano Antônio Silvino (1875-1944), o Rifle de Ouro. Entre suas façanhas, arrancou os trilhos, perseguiu engenheiros e sequestrou funcionários da Great Western, empresa inglesa que construía ferrovias no interior da Paraíba.

Lampião sempre afirmou que entrou na vida de bandido para vingar o assassinato do pai. José Ferreira, condutor de animais de carga e pequeno fazendeiro em Serra Talhada (PE), foi morto em 1920 pelo sargento de polícia José Lucena, após uma série de hostilidades entre a família Ferreira e o vizinho José Saturnino.

No sertão daquele tempo, a vingança e a honra ofendida caminhavam lado a lado. Fazer justiça com as próprias mãos era considerado legítimo e a ausência de vingança era entendida como sintoma de frouxidão moral. “Na minha terra,/ o cangaceiro é leal e valente:/ jura que vai matar e mata”, diz o poema “Terra Bárbara”, do cearense Jáder de Carvalho (1901-1985).

No mesmo ano de 1920, Virgulino Ferreira entrou para o grupo de outro cangaceiro célebre, Sebastião Pereira e Silva, o Sinhô Pereira – segundo alguns autores, quem o apelidou de Lampião. Como tudo na biografia do pernambucano, é controverso o motivo do codinome. Há quem diga que o batismo se deveu ao fato de ele manejar o rifle com tanta rapidez e destreza que os tiros sucessivos iluminavam a noite.

O olho direito, cego por decorrência de um glaucoma, agravado por um acidente com um espinho da caatinga, não lhe prejudicou a pontaria. Outros acreditam na versão atribuída a Sinhô Pereira, segundo a qual Virgulino teria usado o clarão de um disparo para encontrar um cigarro que um colega havia deixado cair no chão.

O cangaço não tinha um líder de destaque desde 1914, quando Antônio Silvino foi preso após um combate com a polícia. Só a partir de 1922, após assumir o bando de Sinhô Pereira, Virgulino se tornaria o líder máximo dos cangaceiros. Exímio estrategista, Lampião distinguiu-se pela valentia nas pelejas com a polícia, como em 1927, em Riacho de Sangue, durante um embate com os homens liderados pelo major cearense Moisés Figueiredo. Os 50 homens de Lampião foram cercados por 400 policiais.

O tiroteio corria solto e a vitória da polícia era iminente. Lampião ordenou o cessar-fogo e o silêncio sepulcral de seu bando. A polícia caiu na armadilha. Avançou e, ao chegar perto, foi recebida com fogo cerrado. Surpreendidos, os soldados bateram em retirada.

A capacidade de despistar os perseguidores lhe valeu a fama de possuir poderes sobrenaturais e, após escapar de inúmeras emboscadas, de ter o corpo fechado. No mesmo mês da tocaia de Riacho de Sangue, Lampião e seu bando caíram em nova emboscada.

Um traidor ofereceu-lhes um jantar envenenado, numa casa cercada por policiais. Quando os primeiros cangaceiros começaram a passar mal, Virgulino se deu conta da tramóia e tentou fugir, mas viu-se acuado por um incêndio proposital na mata. O que era para ser uma arapuca terminou por salvar a pele dos cangaceiros: desapareceram na fumaça, como por encanto.

Mas o maior trunfo de Lampião foi o de cultivar uma grande rede de coiteiros. Isso garantiu a longevidade de sua carreira e a extensão de seu domínio. A atuação de seu bando estendeu-se por Alagoas, Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Lampião chegou a comandar um exército nômade de mais de 100 homens, quase sempre distribuídos em subgrupos, o que dava mobilidade e dificultava a ação da polícia. Em 1926, em tom de desafio e zombaria, chegou a enviar uma carta ao governador de Pernambuco, Júlio de Melo, propondo a divisão do estado em duas partes. Júlio de Melo que se contentasse com uma. Lampião, autoproclamado “Governador do Sertão”, mandaria na outra.

Há divergências – e discussões apaixonadas – em torno da figura histórica de Virgulino. Ele comandava sessões de estupro coletivo ou, ao contrário, punia indivíduos do bando que violentavam mulheres? Castrava inimigos, como faziam outros tantos envolvidos no cangaço? Há controvérsias. “Lampião não era um demônio nem um herói. Era um cangaceiro.

Muitas das crueldades imputadas a ele foram praticadas por indivíduos de outros bandos. Entrevistei vários ex-cangaceiros e nenhum me confirmou histórias a respeito de estupros e castrações executadas pessoalmente por Lampião”, diz o pesquisador Amaury Corrêa de Araújo, autor de sete livros sobre o cangaço.

As narrativas de velhos cangaceiros contrapõem-se à versão publicada pelos jornais da época, que geralmente tinham a polícia como principal fonte. Com tantas histórias e estórias a cercar a figura de Lampião, torna-se difícil separar o homem da lenda. “Acho que está justamente aí, nessa multiplicidade de olhares e versões, a grande força do personagem que ele foi. É isso que nos ajuda inclusive a entender sua dimensão como mito”, explica a historiadora francesa Élise Grunspan-Jasmin, autora de Lampião: Senhor do Sertão (Edusp).

Bonnie e Clyde do sertão

O papel que lhes cabia era o de fazer companhia a seus homens. Os filhos que iam nascendo eram entregues para ser criados por coiteiros. Lampião e Maria tiveram uma filha, Expedita, nascida em 1932. Dois anos antes, aquele que seria o primogênito do casal nascera morto, em 1930.


Entre os casais, a infidelidade era punida dentro da noção de honra da caatinga: o cangaceiro Zé Baiano matou a mulher, Lídia, a golpes de cacete, quando descobriu que ela o traíra com o colega Bem-Te-Vi. Outro companheiro de bando, Moita Brava, pegou a companheira Lili em amores com o cabra Pó Corante. Assassinou-a com seis tiros à queima-roupa. A chegada das mulheres coincidiu com o período de decadência do cangaço.

Desde que passou a ter Maria Bonita a seu lado, Lampião alterou a vida de eterno nômade por momentos cada vez mais alongados de repouso, especialmente em Sergipe. A influência de Maria Déa sobre o cangaceiro era visível. “Lampião mostrava-se bem mudado. Sua agressividade se diluía nos braços de Maria Déa”, afirma o pesquisador Pernambucano de Mello. Foi em um desses momentos de pausa e idílio no sertão sergipano que o Rei do Cangaço acabou sendo surpreendido e morto, na Grota do Angico, em 1938, depois da batalha contra as tropas do tenente José Bezerra. Conta-se que, quando lhe deceparam a cabeça, a mais célebre de todas as cangaceiras estava ferida, mas ainda viva.



Bandido social?

Já foi moeda corrente entre os especialistas interpretar o “Rei do Cangaço” como um “bandido social”, expressão criada pelo historiador inglês Eric Hobsbawm para definir os fora-da-lei que surgiam nas sociedades agrárias em transição para o capitalismo. Em Bandidos(Forense Universitário), de 1975, Hobsbawn cita Lampião, Robin Hood e Jesse James como exemplos de nobres salteadores, vingadores ousados, defensores dos oprimidos.

A imagem revolucionária começou a se desenhar em 1935, quando a Aliança Nacional Libertadora citou Virgulino como um de seus inspiradores políticos. A tese foi reforçada em 1963 com o lançamento de um clássico sobre o tema, Cangaceiros e Fanáticos, no qual o autor, Rui Facó, justifica a violência física do cangaço como uma resposta à violência social. Na mesma época, o deputado federal Francisco Julião, representante das Ligas Camponesas e militante político pela reforma agrária, declarava que Lampião era “o primeiro homem do Nordeste a batalhar contra o latifúndio e a arbitrariedade”.

“Lampião não era um revolucionário. Sua vontade não era agir sobre o mundo para lhe impor mais justiça, mas usar o mundo em seu proveito”, afirma a também a historiadora Grunspan-Jasmin, fazendo coro a um dos maiores especialistas do cangaço da atualidade, Frederico Pernambucano de Mello. Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e autor de Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste Brasileiro, Mello diz que o cangaceiro e o coronel não eram rivais.

Os coronéis ofereciam armas e proteção aos cangaceiros, que, em troca, forneciam serviço de milícia. Dois dos maiores coiteiros de Lampião foram homens poderosos: o coronel baiano Petronilo de Alcântara Reis e o capitão do Exército Eronildes de Carvalho, que viria a ser governador de Alagoas. “Aprecio de preferência as classes conservadoras: agricultores, fazendeiros, comerciantes”, disse Virgulino em uma entrevista de 1926.

Marqueteiro da caatinga

A ideia de que Lampião fosse um vingador também é contestada por Mello. Ele argumenta que, em quase 20 anos de cangaço, Lampião nunca teria se esforçado para se vingar de Lucena e Saturnino, o policial e o antigo vizinho responsáveis pelo assassinato de seu pai. De acordo com um dos homens de Virgulino, Miguel Feitosa, o Medalha, Saturnino chegara a mandar um uniforme e um corte de tecido com o objetivo de selar a paz entre eles. Um portador teria agradecido por Lampião.

O mesmo Medalha dizia que o ex-soldado Pedro Barbosa da Cruz propôs matar Lucena por dinheiro. “Deixe disso, essas são questões velhas”, teria respondido Lampião. Segundo o autor de Guerreiros do Sol, os cangaceiros usavam o discurso de vinganças pessoais e gestos de caridade como “escudos éticos” para os atos de banditismo.

Apesar da vida árdua, quem entrava no cangaço dificilmente conseguia (ou queria) sair dele. Havia um notório orgulho de pertencer aos bandos, revelado também na indumentária dos cangaceiros. O excesso de adereços, os enfeites nos chapéus, os bordados coloridos foram típicos dos momentos finais do cangaço. Lampião era um homem bem preocupado com sua imagem pública, o que colaborou para que permanecesse na memória nacional.

O Rei do Cangaço também era o rei do marketing pessoal. Assim como adorava aparecer em jornais e revistas, deixando-se inclusive fotografar e até filmar, fazia de seu traje de guerreiro uma ostensiva e vaidosa marca registrada. “Nisso, talvez apenas o cavaleiro medieval europeu ou o samurai oriental possa rivalizar com o nosso capitão do cangaço”, escreveu Pernambucano de Mello.

A antropóloga Luitgarde Barros enxerga aí um outro ponto em comum com a bandidagem atual: “Os traficantes também gostam de ostentar sua condição de bandidos e possuem um código visual característico, composto por capuzes e tatuagens de caveiras espalhadas pelo corpo”.

A violência policial é outro aspecto que aproxima o universo de Lampião do mundo do tráfico. Como ocorre hoje nas favelas dominadas pelo crime organizado, a truculência dos bandoleiros sertanejos só encontrava equivalência na brutalidade das volantes – as forças policiais cujos soldados eram apelidados pelos cangaceiros de “macacos”. Nos tempos áureos do cangaço, não havia grandes diferenças entre a ação de bandidos e soldados.

Não raro, eles se trajavam do mesmo modo – o que chegava a provocar confusões – e uns se bandeavam para o lado dos outros. Cangaceiros como Clementino José Furtado, o Quelé, abandonaram o grupo e foram cerrar fileiras em meio às volantes. O bandido Mormaço fez o movimento contrário. Havia sido corneteiro da polícia antes de aderir a Lampião.

Como é comum à história da maioria dos criminosos, uma morte trágica e violenta marcou o fim dos dias de Virgulino. Traído por um de seus coiteiros de confiança, Pedro de Cândida, que foi torturado pela polícia para denunciar o paradeiro do bando, Lampião acabou surpreendido em seu esconderijo na Grota do Angico, Sergipe, em 28 de julho de 1938. Depois de uma batalha de apenas 15 minutos contra as tropas do tenente José Bezerra, 11 cangaceiros tombaram no campo de batalha.


Todos eles tiveram os corpos degolados pela polícia, inclusive Lampião e Maria Bonita. Durante mais de 30 anos, as cabeças dos dois permaneceram insepultas. Em 1969, elas ainda estavam no museu Nina Rodrigues, na Bahia, quando foram finalmente enterradas, a pedido de familiares do casal mais mitológico – e temido – do cangaço.

Fonte: AH - Aventuras na História

Acessar:

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-brasil-biografia-lampiao-morte.phtml

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

PÁGINAS DA HISTÓRIA DO JARI: CORDEL SOBRE A REVOLTA DO CEZÁRIO

O CASO JARY
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Os trabalhadores do senador José Júlio rebelados.

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Cezário de Medeiros é o interprete dos desertores.

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História completa
 I
No dia 4 de junho
à tarde, o sol já morria
na capital de Belém
certo boato corria
de que na zona Jary
qualquer novidade havia

II
Mil versões foram correndo
forjadas por boateiros,
algumas phantasiadas
com factos verdadeiros,
dizendo que Arumanduba
se enchia de cangaceiros.

III
Como não fui no local
não posso testemunhar,
mas aqui, em toscos versos, 
mais ou menos vou narrar
o que através dos jornais
eu consegui apurar.

IV
O senador José Júlio, 
capitalista opulento,
tem na zona do Jary
muito povo em movimento
na borracha, na castanha
para ganhar o alimento.

Muitos chefes de família
emigrados do Nordeste,
teem vindo destinados
aquele rincão agreste
e ali ficam trabalhando
expostos a relho e à peste.

VI
Dizem elles que trabalham
mas não recebem dinheiro,
sofrem maus tratos cruéis
em vida de captiveiro,
mas eu não sei se este caso
será ou não verdadeiro.

VII
Um rapaz amazonense
- José Cezário de Medeiros -
Chegando lá procurou
incutir nos seringueiros
que deviam rebelar-se
fazendo se desordeiros.

VIII
E Cezário conseguiu
arrebatar muita gente,
elle que inda era moço
e parece inteligente,
preparou os companheiros
e collocou-se na frente.

IX
Mais de 700 foram
as pessoas reunidas,
que Cezário inflamara
e fe-las bem convencidas
de que pela liberdade
dessem suas própria vidas.

X
Depois de bem combinados
por todos os logarejos
rumaram à Arumanduba
para exporem seus desejos
ao senador José Júlio,
patrão desses sertanejos

Créditos: Cristovão Lins no livro "A Jari e a Amazônia" , publicado em 1997 pela editora Dataforma em convênio com a Prefeitura de Almeirim/Pará. Nos comentários Lins faz algumas correções, como a data do início da revolta, segundo ele foi no dia 5/6/1928 e não no dia 4 como assinala o cordel e  a naturalidade do líder dos revoltosos, José Cezário ser potiguar/norte-rio-grandense e não amazonense. O referido cordel foi feito com base em notícias da imprensa da época e publicado pela editora Guajarina. 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

LIVRO DE 1980 DENUNCIAVA A DESNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

Apresentação
A autora e os editores deste livro julgaram de inegáveis oportunidades e importância uma nova publicação do esclarecedor Relatório apresentado com a data de 3/6/68, à CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito], da Câmara Federal, destinada a estudar a venda de terras a estrangeiros, notadamente na Amazônia. Após prolongadas pesquisas, narradas detalhadamente no texto, a CPI, cuja constituição fora requerida pelo deputado Márcio Moreira Alves (MDB [Movimento Democrático Brasileiro] - Guanabara), recebia do Relator, deputado Haroldo Veloso (Arena [Aliança Renovadora nacional] - Pará), extensa exposição conclusiva sobre a candente questão.
Eram estarrecedores e revoltantes os fatos apurados, através de tomadas de depoimentos (inclusive dos Ministros da Justiça e do Interior, dos Presidentes do INDA [Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário] e do IBRA [Instituto Brasileiro de Reforma Agrária] - que atualmente  formam o INCRA [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] - e do Superintendente da SUDAM), pedidos de informações a diversos órgãos federais, especialmente os militares e, principalmente, viagem de observação, em que se constataram choques entre nacionais e estrangeiros,  e se realizaram coleta de dados cartoriais, contatos com pessoas e entidades ligadas ao assunto etc. Tais iniciativas, sob a dinâmica orientação do Brigadeiro Veloso, permitiram "formar um quadro que, apesar de incompleto, já indica gravidade do problema e a seriedade com que o mesmo deve ser tratado".
Inicialmente, verificou-se que, em sua maioria, eram norte-americanas as pessoas físicas e jurídicas envolvidas tanto na venda quanto na compra de terras, de extensão, aliás, de milhões de hectares. Municípios já estavam com a sua área quase inteiramente alienada. Tal Relatório estaria fadado ao destino habitual desses documentos - o Arquivo - não fora o inconformismo  de diversos parlamentares e a ação vigilante da Campanha Nacional de Defesa e pelo Desenvolvimento da Amazônia - CNDDA [Comissão Nacional de Defesa pelo Desenvolvimento da Amazônia], que promoveu a sua primeira divulgação. Recorreu a entidade, de pronto, à realização de uma Conferência do Deputado Veloso na então Assembleia da Guanabara, com o inestimável concurso do Deputado Alberto Rajão. Em seguida, reproduziu, em centenas de cópias mimeografadas, a íntegra do Relatório. Finalmente, publicou-o, ainda em 1968, no nº 2 de sua revista, A Amazônia Brasileira em Foco. Ocorreu, sem exagero, verdadeiro impacto na opinião pública. Sucederam-se entrevistas, reportagens, artigos, discursos no parlamento, assembleias e câmaras de todo o País, atos públicos, passeatas etc. A venda de terras a estrangeiros, especialmente na Amazônia, tornou-se, sem dúvida, um preocupante tema do nacionalismo brasileiro. Daí decorreria uma nova legislação sobre o assunto, a qual, embora incompleta  e repetidamente burlada, representou um primeiro entrave à desenfreada e protegida "entrega de nossas terras".
Aqui está novamente, o texto completo do Relatório: ficamos certos de que virá reforçar, com suas afirmativas incontestadas e incontáveis, a luta geral em defesa e pelo desenvolvimento da Amazônia, que representa, aliás, 58% do território pátrio.

Prof. Henrique Miranda

Apresentação do capítulo intitulado Capitais estrangeiros na Amazônia brasileira do livro O Projeto Jari e os capitais estrangeiros na Amazônia da geógrafa, técnica do IBGE  e membro do CNDDA Irene Garrido Filho, publicado pela editora Vozes, em 1980, onde denuncia a desnacionalização da Amazônia brasileira e a cobiça, principalmente dos norte-americanos das riquezas do nosso país.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

CIDADES FANTASMAS (OU NÃO) DO BRASIL

No Brasil, como em outros países também existem cidades fantasmas. Os lugares citados aqui não estão completamente abandonadas, mas o sentido empregado é que essas cidades já tiveram uma população muito grande em relação a que possui na atualidade.
Silêncio e vazio. Lugares e vilarejos com poucos ou nenhum habitantes, construções em ruínas, onde as plantas tomam conta de onde havia trânsito e movimentação de pessoas. Assim, são algumas cidades e vilarejos cujos os moradores, pouco a pouco, foram partindo até não restar mais ninguém. Conhecidas como "cidades fantasmas", cada uma têm histórias e particularidades de quando havia muita vida por lá.
Segue a lista de algumas cidades consideradas fantasmas no Brasil.

Airão Velho/ Amazonas - Situada a 140 km de Manaus, foi a primeira povoação fundada às margens do rio Negro, com o nome de Santo Elias do Jaú, em 1694, tendo sido uma das vilas mais prósperas da região desde a colonização até a Segunda Guerra Mundial por causa do extrativismo do látex. De acordo com uma lenda popular, a cidade ficou despovoada devido ao ataque das terríveis formigas comedoras de gente; segundo outra lenda, as pessoas saíram de lá temendo as assombrações de fantasmas de índios escravizados. Mas ao que parece a verdadeira causa do despovoamento foi mesmo o declínio da atividade extrativista da borracha. Atualmente, o lugar conta com apenas um morador que afirma não deixá-lo temendo o desaparecimento da história da cidade.


Ruínas de casa Airão Velho - Foto: Juan Pratiginestos,, créditos: oeldoradoeaqui

Ruína de casa em Airão Velho 

Foto: Francis Maglia, créditos: oeldoradoeaqui

Créditos: catracalivre



Fordlândia/Pará - Localizada às margens do rio Tapajós, seu nome é uma homenagem ao norte-americano Henri Ford. Ford procurava na época uma grande área para o plantio de seringueiras para a produção de borracha, para viabilizar o projeto criou a cidade que contou com rápida prosperidade e foi a sede do projeto de 1928 a 1934; nesse período chegou a possuir 1.200 moradores. Foi deslocado casas inteiras e galpões dos Estados Unidos para o local. Mas devido a problemas de infertilidade da terra e desconhecimento das características da região, as seringueiras não desenvolveram a acabaram sendo destruídas por pragas; além disso, o empreendimento evidenciou pouca lucratividade e aos poucos foi sendo abandonado. Atualmente, é um distrito do município de Aveiro com poucos habitantes, nem lembrando os seus tempos pretéritos de glória, com casas e galpões completamente abandonados.

Fordlândia de frente para o rio Tapajós - Créditos: chickenorpasta?

Imagens de Fordlândia no auge - Créditos: chickenorpasta?

Interior da fábrica de beneficiamento do látex - Créditos: chickenorpasta? 

Casa da época no padrão americano - Créditos: chicenorpasta?

Resto de maquinário com fábrica ao fundo - Créditos: diáriofb.com

Fábrica e caixa d'água de aço, símbolo da cidade - Créditos: diariofb.com

Interior da fábrica e maquinários - créditos: diariofb.com

Fordlândia, cidade fantasma

Igatu/Bahia - Na Chapada Diamantina com a alcunha de "Machu Picchu brasileiro" devido as suas construções em pedra, teve sua prosperidade por canta da exploração de pedras preciosas e diamantes, sendo que no auge chegou a ter cerca de 10 mil moradores, com comércios, indústrias e até cassino. Na atualidade possui 360 habitantes em meio as muitas ruínas que lembram os tempos áureos.
Ruína de casa em Igatu - ensinarhistoriajoelza.com

Ruínas de casas em pedra/Igatu - Créditos: ensinarhistoirajoelza.com

Créditos: guiamelhoresdestinos.com

Créditos: guiamelhoresdestinos.com

Créditos: google.com

Igatu - Créditos: guiachapadadiamantina.com 

Igatu - Créditos: casaldemochilao.com

Igatu - Créditos: researchgate.net

Igatu - Créditos: lugaresesquecidos.com

Igatu - Créditos: lugaresesquecidos.com

Igatu - Créditos: lugaresesquecidos.com







São João Marcos /Rio de Janeiro - Fundada, em 1739 pelo fazendeiro João Machado Pereira com a construção de uma capela dedicada ao santo, em volta da mesma cresceu um povoado. Seu apogeu ocorreu no século XIX, com o advento da cultura cafeeira, chegando a atingir 14 mil habitantes contando com teatro, clubes, duas escolas e agência dos correios. Foi despovoada e demolida para para a construção da Represa de Ribeirão das Lajes, na década de 1940, outro fator causador do seu despovoamento foi a ocorrência de surtos de malária. Tempos depois, houve a redução do nível da água da represa resultando no reaparecimento das ruínas da antiga cidade. Comenta-se também que houve um erro de planejamento no projeto de engenharia e assim demoliram erroneamente as casas da cidade, aí então elevaram o nível da água temendo uma revolta por parte da população. 








Ararapira/Paraná - Foi fundada pelos portugueses, no século XVIII. Desenvolveu-se a partir do comércio decorrente do tráfego existente na estrada que interligava São Paulo a Curitiba, até a metade do século XIX. Seu declínio se deu em 1952. No século XX, com a mudança do trajeto das estradas entre as duas capitais, além das constantes marés responsáveis pela destruição de várias habitações. Foi transformada em Parque Nacional no fim do século passado e atualmente é considerada Patrimônio Natural da Humanidade.













Ouro Fino/Goiás - Criada como vila, em  1727 destacando-se economicamente durante o ciclo da mineração; posteriormente teve seu nome mudado. Hoje em dia resquícios dos tempos antigos como parte dos muros, da igreja e do cemitério.


Velha Jaguaribara/Ceará - Foi submersa, no final do século passado, devido a construção do açude Castanhão (Açude Público Padre Cicero), um dos importantes reservatórios de água do Brasil; nos períodos de seca,  emergem ruínas do fundo do açude que ainda guarda um monumento em homenagem ao centenário de morte de Tristão Gonçalves de Alencar Araribe, líder da Confederação do Equador (movimento revolucionário que eclodiu em 2 de julho de 1824, em Pernambuco). 











Cococi/Ceará - Distrito de Parambu, chegou a abrigar 2 mil pessoas, fundada por Francisco Alves Feitosa beneficiado pela doação de uma sesmaria que deu origem ao vilarejo. Foi município por um período de 8 anos; já foi cenário de filme. Conhecida como a cidade fantasma do sertão do Ceará teve sua população esvaziada por causa das estiagens e escândalos de corrupção por parte do 3º e último prefeito.

















Biribiri/Minas Gerais - Situada na chapada Diamantina, a 300 km de Belo Horizonte. Seu nome, em tupi-guarani significa "buraco fundo". Fundada em 1876, a partir de criação da indústria têxtil Estamparia S/A pertencente ao bispo Dom João Antônio dos Santos e seus irmãos para servir de abrigo para os trabalhadores da indústria.  A vila chegou a ter 600 empregados com suas respectivas famílias. Em 2013 era habitada por 3 adultos uma criança e o vira-lata Mequetrefe. Atualmente, o lugar serve de suporte para o lazer de turistas devido as suas cachoeiras e belezas naturais. 











Como essas deve existir muitas outras por esse imenso Brasil.